quinta-feira, 3 de dezembro de 2009
segunda-feira, 16 de novembro de 2009
terça-feira, 27 de outubro de 2009
segunda-feira, 7 de setembro de 2009
Poemas de Tigres
01
As garras são meus olhos,
Esses que eram de qualquer outro,
E na ousadia de minha madrugada
Os instalei de súbito em meu corpo.
Olhos renascidos de não morrer
Onde a morte lhes visita a gravidade.
02
Instantâneos e profundos como a saudade:
Noturna matinal arenosa e incômoda.
Lobos aves folhas e olhar de um poço,
Labirinto circular de meus passos felinos.
O tigre dos gritos do meu corpo
Arrasto e não ouvem. Desfolho
Sem saber, o intento no meu rosto.
O Meu Sorriso não tem dizer.
03
Tigres de vôos não vistos,
Não há como ver a altura do imprevisto;
Nem como fugir a fuga dos que tem sina;
Nem como ser luz do que perdeu a vista,
Sem ser brilhar e entorpecer.
Os designados nunca são inteiros
Carregam em seus passos, pés dilacerados:
As pernas e os fatos e as dores.
04
Não há destino exato para a semente no deserto.
Para implacável incerteza desperta.
Para o doer de tigres que desperto.
No tigre dói a não investida,
E assim o tempo cria em mim suas dores.
05
Se persigo veloz tudo que quero:
O fel tenho do não ter e das vontades;
Se passeio ronda a fera como fera,
A vontade que era grande me dilacera.
Sedento da fonte que não seca,
Faminto nas raízes da terra.
06
Quebro a armadilha do labirinto:
Inimigo do transitar das presas,
A prisão do desejo me encarcera.
Os gemidos solitários do secar das ervas:
São explosões inimagináveis do que se queima,
Fogo: angústia nas garras – olhos,
Captura a dor e a corrida do que vejo.
07
Não chamarei de tristes as afiadas unhas,
Nem de solitárias as vítimas da caçada.
08
Há os que praguejam seu destino.
Há os que o destino afaga e cala.
Há no círculo de luz a funda vala
Da fogueira extasiada de algo haver faltado:
Dois dias dois sábados dois olhos,
Ou a mágoa não ter evaporado,
Ou a viagem interceptada de lábios
Que queimariam a febre da fogueira.
09
Quebro nesta tarde com meu correr de tigre:
O braço da sina que me abraça.
Deixem-me por entre flores negras,
Por entre minhas não suavidades:
O tigre que sou – Só garras.
O homem que sou – Só olhos.
Julio Almada, Do Livro Hora Tenaz
As garras são meus olhos,
Esses que eram de qualquer outro,
E na ousadia de minha madrugada
Os instalei de súbito em meu corpo.
Olhos renascidos de não morrer
Onde a morte lhes visita a gravidade.
02
Instantâneos e profundos como a saudade:
Noturna matinal arenosa e incômoda.
Lobos aves folhas e olhar de um poço,
Labirinto circular de meus passos felinos.
O tigre dos gritos do meu corpo
Arrasto e não ouvem. Desfolho
Sem saber, o intento no meu rosto.
O Meu Sorriso não tem dizer.
03
Tigres de vôos não vistos,
Não há como ver a altura do imprevisto;
Nem como fugir a fuga dos que tem sina;
Nem como ser luz do que perdeu a vista,
Sem ser brilhar e entorpecer.
Os designados nunca são inteiros
Carregam em seus passos, pés dilacerados:
As pernas e os fatos e as dores.
04
Não há destino exato para a semente no deserto.
Para implacável incerteza desperta.
Para o doer de tigres que desperto.
No tigre dói a não investida,
E assim o tempo cria em mim suas dores.
05
Se persigo veloz tudo que quero:
O fel tenho do não ter e das vontades;
Se passeio ronda a fera como fera,
A vontade que era grande me dilacera.
Sedento da fonte que não seca,
Faminto nas raízes da terra.
06
Quebro a armadilha do labirinto:
Inimigo do transitar das presas,
A prisão do desejo me encarcera.
Os gemidos solitários do secar das ervas:
São explosões inimagináveis do que se queima,
Fogo: angústia nas garras – olhos,
Captura a dor e a corrida do que vejo.
07
Não chamarei de tristes as afiadas unhas,
Nem de solitárias as vítimas da caçada.
08
Há os que praguejam seu destino.
Há os que o destino afaga e cala.
Há no círculo de luz a funda vala
Da fogueira extasiada de algo haver faltado:
Dois dias dois sábados dois olhos,
Ou a mágoa não ter evaporado,
Ou a viagem interceptada de lábios
Que queimariam a febre da fogueira.
09
Quebro nesta tarde com meu correr de tigre:
O braço da sina que me abraça.
Deixem-me por entre flores negras,
Por entre minhas não suavidades:
O tigre que sou – Só garras.
O homem que sou – Só olhos.
Julio Almada, Do Livro Hora Tenaz
Recados animados
O Tigre
(Título Original: "The Tiger")
William Blake
Tradução de Ângelo Monteiro
Tigre, tigre que flamejas
Nas florestas da noite.
Que mão que olho imortal
Se atreveu a plasmar tua terrível simetria ?
Em que longínquo abismo, em que remotos céus
Ardeu o fogo de teus olhos ?
Sobre que asas se atreveu a ascender ?
Que mão teve a ousadia de capturá-lo ?
Que espada, que astúcia foi capaz de urdir
As fibras do teu coração ?
E quando teu coração começou a bater,
Que mão, que espantosos pés
Puderam arrancar-te da profunda caverna,
Para trazer-te aqui ?
Que martelo te forjou ? Que cadeia ?
Que bigorna te bateu ? Que poderosa mordaça
Pôde conter teus pavorosos terrores ?
Quando os astros lançaram os seus dardos,
E regaram de lágrimas os céus,
Sorriu Ele ao ver sua criação ?
Quem deu vida ao cordeiro também te criou ?
Tigre, tigre, que flamejas
Nas florestas da noite.
Que mão, que olho imortal
Se atreveu a plasmar tua terrível simetria ?
(Título Original: "The Tiger")
William Blake
Tradução de Ângelo Monteiro
Tigre, tigre que flamejas
Nas florestas da noite.
Que mão que olho imortal
Se atreveu a plasmar tua terrível simetria ?
Em que longínquo abismo, em que remotos céus
Ardeu o fogo de teus olhos ?
Sobre que asas se atreveu a ascender ?
Que mão teve a ousadia de capturá-lo ?
Que espada, que astúcia foi capaz de urdir
As fibras do teu coração ?
E quando teu coração começou a bater,
Que mão, que espantosos pés
Puderam arrancar-te da profunda caverna,
Para trazer-te aqui ?
Que martelo te forjou ? Que cadeia ?
Que bigorna te bateu ? Que poderosa mordaça
Pôde conter teus pavorosos terrores ?
Quando os astros lançaram os seus dardos,
E regaram de lágrimas os céus,
Sorriu Ele ao ver sua criação ?
Quem deu vida ao cordeiro também te criou ?
Tigre, tigre, que flamejas
Nas florestas da noite.
Que mão, que olho imortal
Se atreveu a plasmar tua terrível simetria ?
Assinar:
Postagens (Atom)